“A cada pensamento que tiver, pergunte-se: para que ele serve?"
O Vicente gostava muito do Elizeu, um amigo de longos anos,
mas já estava começando a ficar cansado das “idéias fixas” dele:
-
Quer dizer que você acha mesmo que
se o Hilário não aprovasse seu trabalho ele já não poderia ter te mandado
embora?
-
Claro que não: ele quer que eu
peça a conta. Pois ele não quer assumir o ônus de minha demissão. Você sabe,
todo o diretor tem um “budget” a cumprir, e despesas com indenizações possuem
uma verba específica muito baixa em relação às demais despesas da empresa.
-
Verba essa tão baixa que daria
para despedir você e metade do departamento...
-
Pois é isso! Ele quer se livrar
não só de mim, mas de você, do Douglas, do Genésio, do Pedro... De todo o
pessoal do departamento!
-
Pô, Elizeu... Cê tá pirando...
-
Não tô pirando não: você é que
é ingênuo!
-
Meu... Não dá... Cê tá cada vez
mais paranóico...
-
Ah, é? Pois eu é que não vou
esperar para ver; vou me precaver. Hoje mesmo começo a distribuir meu currículo
para DEUS e o mundo. É muito mais fácil conseguir uma recolocação quando se
está ainda empregado. E acho que você, e todo mundo aqui neste departamento,
deveria fazer o mesmo...
-
Meu DEUS...
Nisso, a copeira entra na sala:
-
Oi, meninos!
-
Oi, Cida! Que bom você por aqui!
Nada como seu cafezinho depois do almoço.
E ela deixa um café para cada um deles.
-
ARGHHH...!!!
-
Que foi?
-
Num falei, Vicente?!?
-
Falou o quê, E-L-I-Z-E-U...?
-
Você já provou seu café?
-
?
-
Tá frio!
-
??
-
E sem açúcar!!
-
???
-
É ou não é a prova definitiva
de nosso desprestígio perante nosso diretor?!?
-
...
-
E então... O que você tem a
dizer sobre isso?!?
-
Hummm... Só uma coisa: eu já não
tinha falado para você jogar no lixo o copinho de shoyo que estava em cima de
sua mesa, assim que terminamos o almoço que pedimos ao delivery e
fizemos aqui no escritório?
-
...
-
Aliás... Shoyo tem açúcar...
-
...
“As pessoas se tornam paranóicas porque elas erguem
paredes em torno de si, em vez de muros...”