O “Jornal da Tarde”, do
Grupo Estado, circulou pela última vez nesta quarta-feira, 31 de outubro de
2012.
A edição de ontem representou o fim
de uma série que se iniciou em 4 de janeiro de 1966, 46 anos após seu lançamento – ou seja, quando o jornal foi lançado,
quem hoje possui 50 anos nem sequer sabia ler.
Mas muitos desses que hoje
possuem 50 anos começaram ganhar gosto pela leitura justamente folheando as
páginas desse jornal, considerado um marco em termos de proposta de vanguarda
para a época em que foi idealizado.
Não vou me estender em detalhes
técnicos sobre o significado da extinção desse jornal, pois isso já vem sendo
tema de exposição, à exaustão, por parte de toda a imprensa, inclusive na Internet.
Quero apenas registrar os
aspectos pessoais relacionados ao tema.
Pessoais.
Muito Pessoais.
O ano era 1974.
Garoto.
Estudante de escola estadual.
Vila Buenos Aires – apesar do nome,
na periferia de São Paulo, um bairro basicamente composto por operários, onde
poucos moradores podiam se dar ao luxo de comprar jornal (numa época que a
Internet não existia nem em filmes de ficção cientifica...).
5ª série do 1º grau (hoje, ensino
fundamental).
A professora pediu aos
alunos que apresentassem um trabalho escolar que discorresse sobre a
importância do Metrô de São Paulo – que seria então inaugurado dali a poucos
dias...
Um trabalho que pudesse
contemplar a essência do que significaria para a cidade de São Paulo finalmente
ter um sistema de sistema de transporte de massa compatível com sua magnitude e
importância.
Um trabalho escolar que
contemplasse de maneira profunda o quão relevante seria para a cidade essa
conquista – considerando todos os aspectos que, na época, representavam o
diferencial necessário para que fosse esse trabalho considerado a contento.
Texto.
Diagramação.
Ilustrações.
“Tarefa árdua”, pensei eu, do alto
de minha vasta consciência de quem, à época, tinha 11 anos de idade...
O que fazer?
Como satisfazer todas as expectativas?
Ao passar defronte a uma banca
de jornal, voltando naquele dia da escola, visualizei a fonte redentora de
minhas aflições.
Tratava-se da edição do “Jornal da
Tarde”, trazendo em manchete exatamente o tema, na devida extensão necessária
requerida pela minha professora.
E então...?
Fui rapidamente para casa, peguei
minhas suadas “economias” e comprei o jornal.
“Jornal da Tarde”.
Minha fonte para aquele trabalho
escolar.
E fiz aquele trabalho
escolar.
E fiz com muito apreço.
Muita devoção.
Muita emoção.
E apresentei o trabalho.
E o trabalho ficou legal.
O trabalho ficou muito bom.
O trabalho foi “10”.
E a professora elogiou.
E de tanto que ela elogiava, todo mundo
na classe perguntava:
- Como é que você conseguiu fazer um
trabalho escolar tão legal?
E eu respondia:
- Segredo... Mas eu prometo
que daqui a 50 anos, eu conto!
...
Infelizmente, tive
de quebrar minha promessa...