“Enquanto o DSV de São
Paulo engatinha, a gente tenta andar– só que eles próprios não deixam...."
Ele foi até o endereço indicado pelo DSV, para solicitar a devida isenção de
cumprimento de rodízio de veículos por portador de moléstia grave – conforme
anais da literatura burocrática municipal...
E lá chegou ele, por volta das 16h10, ingenuamente crente que sua tarefa
seria adequadamente atendida – novamente, pensando de acordo com o estabelecido
nos anais da literatura burocrática municipal...
Foi direto ao setor de “Autorizações Especiais”... Pegou a senha “66” que,
arcaicamente, era papel plastificado – isso, na maior cidade da América
Latina...
Mas foi prontamente atendido – será que teria dado azar...?!?
...
-
Boa tarde... Seu nome?
-
Margareth.
-
Margareth, meu nome é Victor...
Vim trazer a documentação necessária para solicitar a dispensa do rodízio
municipal...
-
Ok...
Deixe-me ver...
-
...
-
...
-
...
-
Bem,
senhor Victor, já posso lhe adiantar que muito provavelmente sua solicitação
não será aprovada.
-
Mas a cópia do CPF não
está aí...?
-
Sim,
ela está.
-
A cópia do RG não está
ai...?
-
Sim,
ela está.
-
A cópia do RENAVAM
também não está aí?!?
-
Sim,
também esta.
-
E o formulário de
“requerimento para cadastro de veículo de pessoa com deficiência – operação
horário de pico” também não está aí...?
-
Sim,
está, e esse é um dos problemas; a assinatura no formulário não me parece
familiar com a assinatura na cópia do RG apresentado.
-
Bem, ela assinou ontem,
na UTI... Ela está a uma
semana na UTI... Ela ainda está um
pouco debilitada... Com dificuldades...
-
Mas
eu já lhe antecipo que, com essa assinatura, não haverá aprovação de isenção.
-
Ah... É...?
-
E
também já lhe digo que o atestado médico não está de acordo com o padrão
estabelecido.
-
Não...?
-
Não.
Ele não menciona claramente o problema que justifique a dispensa.
-
Como não?!? Tá escrito
aí... Neoplasia... Há algum especialista médico na avaliação desses
requerimentos?!? Neoplasia é CÂNCER!
-
Ah,
seu Victor, mas no atestado médico não menciona a necessidade de quimioterapia
ou radioterapia – sem isso, não aprovarão essa isenção.
-
Ué... E tem como tratar
essa doença sem essas terapias?... Escuta, não quero me alongar mais nisto...
Minha esposa está internada, já são 16h30, e o horário de visitas termina às
18h00. Daqui (Pinheiros) até o hospital (região da Paulista), ainda vou pegar
um tremendo trânsito
-
Pois
é, seu Victor, mas é o que eu posso fazer – o senhor pode tentar resolver o
problema da assinatura tentando reconhecer a firma no formulário; se vier com
firma reconhecida, sem problemas. Mas quanto à declaração do médico, é
necessário que ela traga a menção explícita de que não se trata de um
tratamento ambulatorial– pois eu tenho CÂNCER, e faço tratamento ambulatorial a
cada três, seis meses, e isso não me dá o direito de solicita isenção do rodízio
municipal.
-
Mas você está na UTI por
conta de seu problema?!?...
-
...
-
Você tem um tumor raro,
absolutamente desconhecido pela classe médica?
-
...
-
Ahnnn... Qual seu
nome...?!? Ah, vejo no crachá... Margareth...
-
Margareth.
-
Com “TH” no final...
-
É...
-
Margareth...
-
...
-
Obrigado pela atenção...
-
...
-
Aliás... Burocrático
isso tudo... Não...?
-
Seu
Victor, não há burocracia. Há somente requerimentos.
-
...?
“O problema da área
pública é que toda solução sempre cai na privada...”