quarta-feira, 10 de outubro de 2012

PROPOSTA INDECENTE

 

“Propostas para prestação de serviços e salsichas: se você tem de conviver com elas, é melhor não saber como são feitas...”
 

Aurélio já estava mais do que impaciente com a demora do Felipe em lhe apresentar a proposta que ele estava preparando – afinal, o “Merdesco” (Banco Mercantil de Desenvolvimento e Comércio), entidade estatal, representava a maior oportunidade estratégica para alavancagem dos negócios, desde a fundação da firma...

E, por isso, foi direto procurar com o Felipe em sua sala...

-           Boa noite, Felipe!
-           Ahnnn... Boa noite, Aurélio...
-           E então... Como vai nossa proposta?
-           Ahnnn...?
-           A proposta para o Merdesco...!
-           Ahnnn... Por quê...?
-           Como “por quê”? O prazo limite para apresentação ao comitê de avaliação do banco é depois de amanhã.
-           É...
-           E eu ainda preciso revisá-la.
-           É...
-           E você está trabalhando nessa proposta há duas semanas!
-           ...
-           E ainda não faço a mínima idéia sobre o que vamos apresentar!
-           ...
-           Afinal... O que temos?
-           ...
-           TEMOS ALGUMA COISA...?!?...
-           ...
-           ...
-           ...
-           ...
-           Quase...
-           ...
-           ... Tudo.
-           ...
-           Falta-me apenas definir alguns detalhes...
-           ... Que tipo de detalhe...?
-           Por exemplo...
-           ...
-           Estou em dúvida quanto ao número de horas que devemos apresentar...
-           Qual seriam essas horas?
-           Bem... Se fosse possível assegurar que todo nosso trabalho transcorresse dentro do ideal, poderíamos estabelecer como orçamento um total de mil horas...
-           ... Hummm... E, em não sendo possível assegurar que encontraremos esse “ambiente” ideal? Qual seria sua estimativa para a proposta, considerando o pior “cenário”?
-           ...
-           ...
-           Três...
-           ...
-           Mil...
-           ...
-           Horas...
-           ...
-           É... Mais ou menos...
-           ...
-           ...
-           ... Coloca na proposta... 987 horas... Ok?!?
-           Ok!!!
-           Fechado, então...?
-           Bem... Tem também o valor da taxa horária...
-           ...
-           É...
-           ...?
-           Considerando também o melhor cenário, em que não seria necessário envolver profissionais do alto escalão, teríamos uma taxa de R$ 150,00...
-           E... No pior cenário?
-           Bem... Alguma coisa em torno de R$ 500,00...
-           ...
-           ...
-           ... Coloca na proposta uma taxa horária de R$ 98,23... Ok?!?
-           Ok!!!
-           Mais alguma dúvida?
-           Não, senhor!
-           E então: quando é que eu terei a proposta em minha mesa para revisão?
-           Amanhã, pela manhã!
-           Ok, Felipe. Boa noite.
-           Boa noite, Aurélio
...
Sai o Aurélio da sala do Felipe...
Entra o Ignácio...
-           E aí... Deu certo...?
-           Cara... Se deu...
-           Não te falei...?!?
-           É, você falou... Como é que você sabia...?!?
-           ...
-           Como é que você sabia dos valores que o Aurélio ia definir ...?
-           ... Hummm... Felipe: tenha em mente que essa é a regra no mundo dos negócios – o importante é ganhar o cliente...
-           ...
-           ...
-           E quem tiver de fazer o serviço... Como é que vai se virar para realizá-lo dentro dessa proposta, com um orçamento de horas e taxa horária tão ridículos?
-           ...
-           ...
-           Sinceramente...
-           ...
-           O que você costuma fazer da meia-noite às seis...?!?
-           ...
 

“Às vezes a gente pensa tão grande, mas tão grande... Que não cabe na realidade...”

 

POSTAGENS MAIS ACESSADAS NOS ÚLTIMOS 30 DIAS:

Powered By Blogger