“Nada do que foi será
De novo do jeito que já foi um dia
Tudo passaTudo sempre passará...
A vida vem em ondas
Como um mar
Num indo e vindo infinito...”
Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver
daqui para frente do que já vivi até agora.
Tenho muito mais passado do que futuro. Sinto-me como aquele
menino que recebeu uma bacia de cerejas. As primeiras, ele chupou displicente,
mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero
estar em reuniões onde desfilam egos inflamados. Inquieto-me com invejosos
tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para
discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que
apesar da idade cronológica, são imaturos.
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo
majestoso cargo de secretário-geral do coral.
As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos. Meu
tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem
pressa...
Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente
humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, que não se encanta com
triunfos, que não se considera eleita antes da hora, que não foge de sua
mortalidade, Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade!
O essencial faz a vida valer à pena. E para mim, basta o
essencial!
“Tudo o que se vê não é
Igual ao que a gente viu a um segundoTudo muda o tempo todo no mundo...
Não adianta fugir, nem mentir pra si mesmo agora
Há tanta vida lá fora
Aqui dentro sempre
Como uma onda no mar...”
Fonte:
“O Valioso Tempo dos Maduros” (Mário de Andrade)
“Como Uma Onda” (Lulu Santos)