quinta-feira, 1 de novembro de 2012

O "JORNAL DA TARDE" ANOITECEU...


O “Jornal da Tarde”, do Grupo Estado, circulou pela última vez nesta quarta-feira, 31 de outubro de 2012.

A edição de ontem representou o fim de uma série que se iniciou em 4 de janeiro de 1966, 46 anos após seu lançamento – ou seja, quando o jornal foi lançado, quem hoje possui 50 anos nem sequer sabia ler.

Mas muitos desses que hoje possuem 50 anos começaram ganhar gosto pela leitura justamente folheando as páginas desse jornal, considerado um marco em termos de proposta de vanguarda para a época em que foi idealizado.

Não vou me estender em detalhes técnicos sobre o significado da extinção desse jornal, pois isso já vem sendo tema de exposição, à exaustão, por parte de toda a imprensa, inclusive na Internet.

Quero apenas registrar os aspectos pessoais relacionados ao tema.

Pessoais.

Muito Pessoais.

O ano era 1974.

Garoto.

Estudante de escola estadual.

Vila Buenos Aires – apesar do nome, na periferia de São Paulo, um bairro basicamente composto por operários, onde poucos moradores podiam se dar ao luxo de comprar jornal (numa época que a Internet não existia nem em filmes de ficção cientifica...).

5ª série do 1º grau (hoje, ensino fundamental).

A professora pediu aos alunos que apresentassem um trabalho escolar que discorresse sobre a importância do Metrô de São Paulo – que seria então inaugurado dali a poucos dias...

Um trabalho que pudesse contemplar a essência do que significaria para a cidade de São Paulo finalmente ter um sistema de sistema de transporte de massa compatível com sua magnitude e importância.

Um trabalho escolar que contemplasse de maneira profunda o quão relevante seria para a cidade essa conquista – considerando todos os aspectos que, na época, representavam o diferencial necessário para que fosse esse trabalho considerado a contento.

Texto.

Diagramação.

Ilustrações.

“Tarefa árdua”, pensei eu, do alto de minha vasta consciência de quem, à época, tinha 11 anos de idade...

O que fazer?

Como satisfazer todas as expectativas?

Ao passar defronte a uma banca de jornal, voltando naquele dia da escola, visualizei a fonte redentora de minhas aflições.

Tratava-se da edição do “Jornal da Tarde”, trazendo em manchete exatamente o tema, na devida extensão necessária requerida pela minha professora.

E então...?

Fui rapidamente para casa, peguei minhas suadas “economias” e comprei o jornal.

“Jornal da Tarde”.

Minha fonte para aquele trabalho escolar.

E fiz aquele trabalho escolar.

E fiz com muito apreço.

Muita devoção.

Muita emoção.

E apresentei o trabalho.

E o trabalho ficou legal.

O trabalho ficou muito bom.

O trabalho foi “10”.

E a professora elogiou.

E de tanto que ela elogiava, todo mundo na classe perguntava:

- Como é que você conseguiu fazer um trabalho escolar tão legal?

E eu respondia:

- Segredo... Mas eu prometo que daqui a 50 anos, eu conto!

...

Infelizmente, tive de quebrar minha promessa...


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