Uma das questões mais sensíveis
na comunicação (quer seja escrita ou falada) é a exata aplicação dos termos
“possível” e “provável” no contexto em que eventualmente são empregadas.
Se em meio a uma conversa
informal sem qualquer pretensão maior a utilização indiscriminada desses termos
pode até não ser de grande importância, numa circunstância em que a necessidade
de esclarecimento esteja implícita, o entendimento pode vir a ser prejudicado.
E em situações em que o rigor técnico seja premissa, tanto maiores podem ser os
prejuízos.
Que o digam os auditores,
contadores, administradores, advogados, médicos...
Definir um determinado evento como “possível” implica em assumir
que de alguma maneira ele “pode” ocorrer, pois os recursos básicos e inerentes
à sua ocorrência existem.
Definir um determinado evento como “provável” implica em assumir
que, dadas as condições de acessibilidade aos recursos básicos e inerentes à
sua ocorrência, ele tem “probabilidade” de efetivamente ocorrer.
Numa contraposição didática
mais simples quanto à significância desses dois termos, poderíamos assumir
então que:
- Tudo o que é provável, é
possível; mas,
- Nem tudo o que é possível, é
provável.
É possível que eu ganhe no
próximo sorteio da loteria?
Sim! Para viabilizar essa possibilidade, tudo o que
eu tenho de fazer é... Jogar na loteria!
É provável que eu ganhe no
próximo sorteio da loteria?
Não! Não há recurso
disponível que, objetivamente, possa garantir um mínimo de expectativa relevante
quanto à ocorrência dessa probabilidade.
Assim, tenha sempre em mente:
- É “possível” a uma pessoa
participar física e pessoalmente de dois eventos que ocorram ao mesmo tempo e a
10.000 km de distância entre si?
Claro que não! Ainda não existe
tecnologia disponível que possibilite esse deslocamento físico de um ser humano
(atenção: a tecnologia do teletransporte continua restrita ao comando da Enterprise...); ou seja,
não há a menor possibilidade, nem “remota”, de isso
acontecer.
- É “possível” a qualquer pessoa
entrar em órbita?
Claro que sim! Para isso, basta apenas
que essa pessoa recorra ao meio de transporte já disponível exatamente para
esse fim - um foguete...; ou seja, essa possibilidade existe, mas é “remota”.
- É “provável” a um
astronauta entrar em órbita?
Claro que sim! Pois um astronauta é
justamente preparado para essa atividade, e possui acessíveis os recursos
necessários para esse evento, o que o define como não só como “possível” como “provável”.
- É “provável” que qualquer
pessoa entre em órbita?
Claro... Que não! Pois a probabilidade de
uma pessoa que não seja astronauta ter acesso a um foguete é praticamente zero –
pelo menos por enquanto...
O que não significa que, para
compensar todas as eventuais frustrações decorrentes das diversas impossibilidades
e improbabilidades que a vida nos impõe a todos, muitas pessoas não optem
por viver ”no mundo da Lua”...